quinta-feira, 23 de julho de 2009

CUT -Central única dos altos salários

Durante mais de 20 anos, um grupo de sindicalistas da Petrobras, ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), não hesitava em promover greves, fazer piquetes nas portas de refinarias ou até mesmo enfrentar a polícia durante as campanhas por melhores salários. Desde 2003, quando o PT assumiu o governo, o problema de salário não existe mais para esse núcleo de ex-petroleiros. Documentos obtidos pelo Correio/Estado de Minas comprovam que um grupo de pelo menos 20 ex-sindicalistas passou a receber da Petrobras e de empresas subsidiárias um salário médio de R$ 40 mil — incluindo participação nos lucros da empresa. Esse valor corresponde a 45 pisos mínimos salariais da categoria, que está hoje em torno de R$ 1 mil. Os vencimentos dos novos dirigentes da estatal, que variam de R$ 30 a R$ 60 mil, também estão bem acima do piso de R$ 3 mil dos funcionários da empresa com nível superior. Remanescentes da Federação Única dos Petroleiros, a FUP, uma organização trabalhista ligada à CUT, os ex-petroleiros foram acolhidos principalmente nos departamentos de Comunicação Institucional, de Recursos Humanos e de Gás da estatal. Os bons rendimentos da empresa levaram os ex-sindicalistas a trocar os megafones por ternos bem cortados, propriedades rurais no interior de São Paulo e apartamentos na Zona Sul do Rio. Nomeado no início do governo Lula para o cargo de gerente comunicação estratégica da Petrobras, o ex-dirigente do sindicato dos Petroleiros de Campinas Wilson Santarosa, que entrou na empresa como operador de refinaria, conseguiu fazer uma mudança ainda mais radical. Além de se transferir para um apartamento no Leblon, bairro nobre na Zona Sul do Rio, Santarosa conseguiu trocar o número do seu CPF — documento que indica, por exemplo, se o portador tem uma dívida praça. O número 907.370.248.87, usado por Santarosa nos tempos em que ele morava em casa na periferia de Americana, no interior de São Paulo, foi cancelado pela Receita Federal. De posse de uma nova identidade fiscal, Santarosa recebe hoje em torno de R$ 704 mil por ano de rendimentos da Petrobras e da Petros, o fundo de pensão da empresa estatal, onde exerce o cargo de conselheiro. A papelada mostra que, em 2007, Santarosa recebeu da Petrobras a bolada de R$ 557.519,38 entre salários e outros bônus. O montante, que não inclui o valor do 13º salário, indica que só da estatal Santarosa recebeu em torno de R$ 45 mil por mês. O ex-sindicalista ganhou ainda cerca de R$ 84 mil da Petros em 2007, elevando os ganhos para R$ 641.516,48, o que deu rendimento mensal de R$ 53.400. Com o aumento de 9,8%, concedido ano passado a toda a categoria, os rendimentos de Santarosa chegaram a R$ 704 mil por ano. Isso significa que em 2008, o ex-sindicalista recebeu renda mensal em torno RS$ 60 mil. A fim de garantir o futuro da família, ainda conseguiu empossar sua mulher, Geide Miguel Santarosa, como ouvidora na BR Distribuidora. Ex-assessora do marido na Sindipetro de Campinas, Geide recebe cerca de R$ 10 mil por mês. (Amaury Ribeiro Jr. no Correio Braziliense)
Vencimentos no atual governo
Lotados em diretorias da estrutura da Petrobras, estão os ex-dirigentes sindicais Erasmo Granado Ferreira, Gilberto Puig Maldonado, José Manoel Carlos Figueiredo, José Aparecido Barbosa, Marcelo Ranúzia e Rosemberg Evangelista Pinto. Erasmo ocupa o cargo de coordenador de crises, e Maldonado é gerente de comunicação interna. Os demais dirigentes foram nomeados como gerentes regionais de comunicação. Os vencimentos dos ex-gerentes lotados no departamento de comunicação chegam à bolada de R$ 40 mil por mês. Um exemplo: demitido em 1993 durante uma greve da categoria e readmitido em 2004, Erasmo, que foi diretor do Sindipetro em São Paulo, recebeu em 2007 da Petrobras a quantia de R$ 515.624, sendo R$ 332.334, de salários e bônus e mais RS$ 183.290 mil de horas extras e verbas indenizatórias. Os demais funcionários do departamento tiveram vencimentos semelhantes. A exemplo de Wilson Santarosa, gerente de comunicação estratégica da Petrobras, os salários dos demais funcionários do departamento também sofreram um reajuste de 9,8% no ano passado. No mesmo patamar salarial de Santarosa estão também os gerentes de Recursos Humanos, Diego Fernandes, e de Desenvolvimento Energético da Diretoria de Gás e Energia da Petrobras, Mozart Schimitt de Queiroz, conhecido como Nonô. Ex-dirigente sindical em Mauá, Diego Hernandes recebeu em 2007 R$ 560.280,69 de vencimentos da estatal.
Com o reajuste do ano passado, os vencimentos do ex-sindicalista chegaram a RS$ 616 mil, o que significou uma mesada mensal de cerca de R$ 50 mil por mês. Ex-diretor do Sindipetro do Rio de Janeiro em 2001, Mozart recebeu vencimentos bem próximos ao de Hernandes. Procurada pela reportagem, a Petrobras informou por meio de sua assessoria de imprensa que os salários dos gerentes da Petrobras são reajustados de acordo com dissídio coletivo. A assessoria de imprensa informou ainda que os cargos de gerentes de comunicação, ocupados por ex-dirigentes de sindicatos, foram criados no governo anterior. Ao contrário do que indicam os documentos obtidos pela reportagem, a assessoria de imprensa da Petrobras nega que Wilson Santarosa tenha trocado de CPF. (Amaury Ribeiro Jr. no Correio Braziliense)

Publicado ou Escrito por Chico Bruno

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