quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sarney culpa PT e diz que não renuncia: 'Foram conversas de pai e filho'

BRASÍLIA - Em sua ilha particular do Curupu, no Maranhão, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), mandou dizer que não renuncia. Integrantes do seu grupo político explicitaram nesta quarta ao Palácio do Planalto a desconfiança de que o vazamento das gravações da Polícia Federal, foram comandadas pelo ministro da Justiça Tarso Genro, e tiveram claro objetivo de desestabilizá-lo politicamente. O próprio Sarney estaria contrariado com Tarso, por não ter tido controle maior da investigação na PF.
Avaliação reservada do grupo de Sarney é de que Tarso deveria ter evitado o vazamento das conversas telefônicas e o direcionamento da investigação da Operação Boi Barrica para Sarney. O presidente do Senado falou com poucos interlocutores políticos. Demonstrou estar magoado com a enorme exposição de seus familiares. Mas tem sido enfático ao afirmar que não pensa em renúncia ou afastamento.
Contando com o apoio incondicional da maioria da bancada peemedebista e mesmo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do Senado disse aos seus interlocutores que pretende continuar se defendendo do que classificou de campanha da mídia para derrubá-lo. E minimizou o conteúdo das gravações divulgadas:
- Foram conversas de pai e filho.
A governadora do Maranhão e filha de Sarney, Roseana Sarney, não comentou as novas denúncias contra o pai.
- Não li as novas denúncias. Estou em Imperatriz - limitou-se a dizer.
A suspeita de Sarney é que setores do PT que estariam descontentes com a sua eleição para o comando da Casa estariam alimentando denúncias contra ele. Na época da Operação Lunus, que encontrou dinheiro num escritório de Roseana, então pré-candidata do DEM à Presidência, em 2002, o grupo de Sarney também tentou pôr a culpa no então adversário do PSDB, José Serra,
Para o Planalto e o PMDB, as gravações, embora exponham a família Sarney, não contêm irregularidade. A avaliação é a de que arrumar emprego para parente não era uma prática ilegal até a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), no ano passado, que proibiu o nepotismo.
Em nota assinada por seu advogado, Eduardo Ferrão, Fernando Sarney destacou que suas conversas "estritamente privadas com seus filhos e seu pai" não revelam "qualquer conotação de ilicitudes". A nota ressalta ainda que "constitui conduta criminosa" a divulgação de informações de um inquérito que tramita sob segredo de Justiça e que sua propagação pela internet e outros órgãos de imprensa "constitui flagrante e inaceitável atentado a garantias estampadas na Constituição Federal".
Ainda de acordo com a nota, os trechos de suas conversas telefônicas com os filhos, Maria Beatriz Sarney e João Fernando Michels Gonçalves Sarney, e seu pai, José Sarney, teriam sido mutiladas, mas "não revelam a prática de qualquer ato ilícito". Ferrão conclui anunciando que, "diante da lamentável quebra da privacidade a que todo o cidadão faz jus, todas as medidas legais para a preservação dos direitos" de seu cliente serão tomadas.
O temor no Planalto é que a popularidade de Lula pode sofrer abalos ao colar a imagem dele aos escândalos do presidente do Senado. Mas a determinação ainda é de manter a blindagem por causa do necessário apoio de Sarney e do PMDB ao projeto petista da candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, em 2010. Aliados de Sarney querem pedir investigação contra adversários
A disposição do PMDB é de continuar dando sustentação ao presidente do Senado. Mas, cientes de que o clima de confronto poderá piorar após o recesso, os aliados começaram a articular uma reação, reforçando as ameaças que vinham fazendo de maneira mais discreta até agora: se Sarney cair, levará consigo pelo menos meia dúzia de senadores.
O grupo já estaria, inclusive, reunindo dados para a apresentação de representações no Conselho de Ética contra os principais críticos de Sarney. Entre os alvos está o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), que anunciou ontem sua intenção de protocolar a quarta denúncia contra Sarney no Conselho de Ética. Ele encaminhou ainda um pedido ao novo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, solicitando investigação sobre a responsabilidade penal de Fernando Sarney e Agaciel Maia na denúncia de tráfico de influência para nomeação de servidores no Senado.
O senador Tião Viana (PT-AC), que perdeu no início no ano a disputa pela presidência do Senado, também estaria na mira dos aliados de Sarney. No DEM, o alvo mais provável deverá ser o senador Efraim Morais (PB), que ocupou a 1ª Secretaria.
O delegado da Polícia Federal Gustavo Buquer, responsável pelo inquérito sobre atos secretos, decidiu nesta quarta pedir à Justiça Federal do Maranhão cópias das gravações em que Sarney intercede em favor da nomeação do namorado da neta para um emprego na Casa. A partir daí, o presidente do Senado, que até então tentava se manter distante dos abusos cometidos pelo ex-diretor-geral Agaciel Maia, pode se tornar um dos principais alvos das investigações criminais sobre nomeações secretas.
Para a polícia, os diálogos contêm indicações de suposta ligação de Sarney com crimes investigados no inquérito aberto em maio para apurar nomeações, demissões, transferências e concessões de benefícios para senadores e funcionários em atos sigilosos. Caso a expectativa dos investigadores se confirme, o inquérito será transferido da Justiça de primeira instância para o Supremo Tribunal Federal (STF), instituição que tem, entre suas atribuições, oficiar investigações relacionadas a pessoas com foro privilegiado, como é o caso do presidente do Senado.
Num primeiro passo, Buquer pedirá à Justiça Federal cópia dos diálogos gravados pela PF, na chamada Operação Boi Barrica, ano passado. A partir daí, Buquer e o procurador Gustavo Velloso vão fazer nova análise dos trechos em que Sarney é mencionado. Mas a mudança de foco é dada como certa. Numa das conversas, Sarney afirma que vai conversar com Agaciel para acertar a nomeação do namorado da neta, que ocuparia a vaga de um meio-irmão de Beatriz.
- A divulgação dos diálogos foi um tiro na investigação. Provavelmente o inquérito sobre atos secretos vai subir para o Supremo. Não há como não se fazer o vínculo entre o presidente do Senado e os atos secretos que estão sendo investigados - disse ao GLOBO uma autoridade que está acompanhando o caso de perto. Transferência para STF atrasa apuração
A PF apontará formalmente os vínculos entre Sarney e os atos secretos a contragosto. Para investigadores do caso, a transferência do inquérito para o STF atrasará a apuração. Pela lei, depois de remetido ao STF, os autos terão que ser apreciados pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Caberá a ele decidir se os indícios são realmente suficientes para abrir inquérito contra Sarney e, com isso, manter as investigações no STF. No STF, as investigações criminais são, naturalmente, mais lentas que na primeira instância do Judiciário.
Desde o início das investigações, a PF vinha fazendo levantamentos sobre os responsáveis e os beneficiários dos atos secretos. O trabalho tinha como ponto de partida as investigações de uma comissão de sindicância do próprio Senado. Há duas semanas, Sarney enviou ofício pedindo que a PF apurasse as responsabilidades pelos atos secretos. A PF respondeu que o inquérito já estava aberto.

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