sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Obama começou preterido e se tornou primeiro presidente negro dos EUA




da Folha Online
No começo da campanha eleitoral, ainda em 2007, poucos apostavam na candidatura de Barack Hussein Obama. Senador por Illinois em seu primeiro mandato, ele era um desconhecido diante da ex-primeira-dama Hillary Clinton.
Com uma estratégia bem definida --ganhar pequenas votações e "caucus" (assembléias de eleitores)-- e a percepção de que os eleitores buscam uma mudança na administração do país --principal lema de sua campanha--, Obama conquistou a nomeação democrata com o apoio em massa dos superdelegados, após as últimas primárias democratas.
Na noite de 3 de junho passado, após a contagem dos votos de Montana e Dakota do Sul, a equipe de campanha de Obama celebrou a conquista inédita. Obama era, então, o primeiro negro a se tornar candidato à Presidência dos EUA por um grande partido.
Barack Obama discursa para simpatizantes em comício em New Hampshire
E a questão racial, mesmo que de forma velada, pontuou a campanha do senador. Após a descoberta dos sermões controversos de Jeremiah Wright, seu ex-pastor por 20 anos com quem teve que romper, Obama fez um discurso sobre a temática que ficou marcado como exemplo do poder de sua retórica que atrai milhares aos seus comícios.
"Escolhi disputar a Presidência neste momento histórico porque acredito profundamente que não podemos resolver os desafios de nossa era a não ser que o façamos juntos, a não ser que aperfeiçoemos nossa união ao compreender que, embora nossas histórias pessoais possam diferir, temos esperanças comuns", disse Obama, na época.
Mesmo sem anunciar constantemente o fato de poder ser o primeiro presidente negro dos EUA, foi entre eleitores negros que Obama teve maiores índices de votação. Outro grande eleitorado de Obama está na camada mais jovem da população, estudantes de classe média e alta que vivem em meio à diversidade das universidades, influenciados pelo rap e pela música negra em geral.

Origens

Homem faz campanha por Obama; senador é muito popular entre os jovens e os negros
Filho de Barack Hussein Obama, um homem negro do Quênia educado em Harvard e de Ann Dunham, uma mulher branca de Wichita, no Estado do Kansas, Obama fala das suas origens como as de um candidato "não-convencional". Nasceu em Honolulu, no Havaí, em 4 de agosto de 1961, e seus pais se separaram quando tinha dois anos.
O democrata morou na Indonésia quando criança, após sua mãe se casar com um indonésio, e depois viveu no Havaí, com seus avôs brancos. As idas e vindas deram, na sua opinião, as ferramentas necessárias para que pudesse se tornar um político hábil na hora de fazer coligações e traçar alianças. "Ele se movimenta entre vários mundos", afirma sua meia irmã, Maya Soetoro-Ng. "É o que fez em toda a sua vida."
"Sou filho de um homem negro do Quênia e de uma mulher branca do Kansas. Fui criado com a ajuda de um avô negro que sobreviveu à Depressão e combateu durante a Segunda Guerra Mundial, e de uma avó branca que trabalhou em uma linha de montagem de bombardeiros, em Fort Leavenworth, enquanto seu marido servia no exterior", descreve Obama.

Sua adolescência no Havaí foi marcada não só por uma destacada trajetória escolar, mas também por anos de contravenção. Na época, Obama experimentou a maconha e a cocaína, conforme afirma em sua biografia "Dreams from my Father: A Story of Race and Inheritance" ("Sonhos de Meu Pai: Uma História de Raça e Herança").
Como previa, a história veio à tona quando Robert Johnson, fundador da Black Entertainment Television e fiel apoiador de Hillary lembrou do episódio dias antes das primárias da Carolina do Sul. Na época, ele se defendeu dizendo acreditar "que o americano médio sabe que o que alguém faz quando é adolescente, há 30 anos, provavelmente não é relevante em como vai desempenhar seu papel de presidente dos EUA".

Com um bom histórico escolar, Obama formou-se em direito na tradicional Universidade Harvard e trabalhou como professor e defensor dos direitos civis em Chicago antes de ser eleito senador por Illinois, em 2004.
Foi em Harvard que Obama conheceu sua mulher, Michelle, com quem se casou em 1992. Em uma campanha que prega o novo, Michelle é um dos triunfos de Obama. Negra e com formação universitária, Michelle é um cabo eleitoral importante de Obama entre mulheres. Obama e Michelle tem duas filhas. Malia, 10, e Sasha, 7, que aparecem na mídia apenas nos momentos de grandes conquistas, como no discurso da vitória.
Com carisma e retórica refinada, Obama ganhou popularidade ao longo da campanha e foi o candidato que melhor soube utilizar as ferramentas da internet.

Religião

Por sua família muçulmana, Obama enfrentou boatos de que seria também um muçulmano, religião que muitos americanos associam negativamente ao extremismo. Os boatos foram reforçados com a divulgação de uma foto na qual Obama aparece com trajes típicos em visita ao Quênia, onde sua família paterna mora.
Obama converteu-se, já adulto, ao cristianismo e é membro da Igreja Batista da Trindade Unida em Cristo, em Chicago. Sua equipe acusou a campanha de Hillary, sua rival à época, pela divulgação da foto.
"Tenho irmãos, irmãs, sobrinhas, sobrinhos, primos e tios de todas as raças e matizes, espalhados por três continentes e, por mais que eu viva, jamais me esquecerei de que em nenhum outro país do planeta minha história seria possível", afirma Obama, sobre sua história familiar.
Sua avó, Sara, tornou-se uma celebridade no Quênia após a conquista da nomeação. Ela recebe diariamente dezenas de jornalistas para quem declara o orgulho que sente do neto.
Reta final
Há um ano, poucos americanos sabiam soletrar o nome de Obama e, agora, ele é o 44º presidente da história do país --o primeiro negro. Obama começou preterido e se tornou primeiro presidente negro dos EUA

No começo de sua campanha, Obama brincava freqüentemente que o povo não se lembrava de seu nome. A própria rede de TV CNN teve de fazer uma correção após confundir o nome do senador com o do terrorista de origem saudita Osama bin Laden, líder da rede Al Qaeda --chamou o então senador de "Barack Osama".
Obama cresceu na disputa contra Clinton nas primárias, em grande parte, graças às suas promessas de mudança e ao fato de não estar diretamente associado à "velha política" de Washington. Na reta final, contra o republicano John McCain, Obama foi criticado pela falta de experiência em política internacional, principalmente, mas soube compensar o fato com a escolha do experiente senador Joe Biden como companheiro de chapa.
Por outro lado, foi auxiliado pela escolha da polêmica e criticada candidata a vice republicana, Sarah Palin, e, acima de tudo, pelo agravamento da crise financeira mundial.

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